"Os primeiros passos"

Por Evandro Cruz Silva *

Um dia, um daqueles dias que você pensa que nada vai acontecer, uma amiga me encontrou e disse “Boa, achei um curso comunitário, EDUCAFRO, ele dão um baita apoio para você entrar na faculdade, vamo?” e eu fui. Mal sabia que aquela seria uma das melhores decisões da minha vida... Ao chegar ao Valongo, dei de cara com algo maravilhoso, pessoas voluntárias trabalhando num sábado para atender pessoas que elas nem conheciam, e essa ação me fez ver que eu queria estar lá, fazer parte daquela equipe. Feita a inscrição, torci muito, muito mesmo, para que fosse aprovado, e no dia em que saiu a lista da primeira chamada, vi meu nome lá: EVANDRO CRUZ SILVA, e confesso que apertei umas três vezes o F5 para ver se não havia nenhum engano, pelo destino ser um ente muito irônico, a amiga que acompanhei no dia da inscrição não havia passado, o que me causou certa tristeza, mas, não me deixei abater e me preparei para as aulas, sabia que a partir do primeiro dia letivo no EDUCAFRO minha vida mudaria, e eu não estava enganado.
As aulas começaram com a matéria de Cultura e Cidadania, e confesso que até então eu pensava “o que diabos uma aula dessas vai me ajudar no vestibular?”, a resposta foi imediata, logo de cara começaram as discussões sobre gênero, raça, sociedade e a expressão do conhecimento de cada um formava um acúmulo de informações e visões criticas que duvido muito, tenha em outros lugares. Logo após a aula, tivemos o café da manhã, tive a oportunidade de conhecer algumas pessoas, que tinha como maior característica em comum a diferença, gente de todas as idades, religiões, ideologias, idades, convivendo de forma pacífica, fraternal e alegre, coisa que eu não acreditava ser possível, acontecendo em minha frente!
Após o café, tivemos aula de biologia, com a professora Camila (professora muito simpática, aliás) e ela falou algo sobre os gansos canadenses que é muito bonito, apesar de eu não me lembrar exatamente o que era, era muito bonito. A aula de biologia foi maravilhosa, incomparável àquelas que tive na minha escola.
Tivemos o almoço e logo após, aulas de matemática com o Sr. Agnaldo (quando eu envelhecer, eu quero ser igual ao Sr. Agnaldo, recomendo isso a todos), a vontade dele de ensinar é incrível, algo fora do comum mesmo, o amor dele pela matemática serve de exemplo para toda a humanidade.
Em resumo, não vou falar sobre todas as aulas do primeiro dia, o texto ficaria longo demais, direi apenas, que, como todas que tive até agora, foram de grande proveito, uma avalanche de conhecimento que fui privilegiado por ser atingido.
Na ultima parte deste texto, gostaria de falar um pouco sobre como vem sendo a estadia no núcleo neste mês, cada dia que passa, eu me sinto mais a vontade lá, me sinto um membro da equipe, alguém que tem utilidade. Apesar do pouco tempo, me sinto bem enturmado com todos, a receptividade da equipe de coordenação e alunos faz com que você se sinta em casa e nos dias da semana confesso que conto os dias para que chegue sábado e eu possa ir para o núcleo, geralmente chego muito cedo (ao ponto de um dia o Marcio, universitário do núcleo, me perguntar se eu dormia lá, não Marcio, eu não durmo lá...) e geralmente saio depois dos demais, sempre ajudando na organização das coisas, faço isso, não para fazer uma imagem de bonzinho ou impressionar os outros, faço por saber que aquilo vai influenciar a vida de alguém para o bem, alguém que realmente precisa.
Bem, encerrando este relato, digo que o EDUCAFRO mudou meu modo de pensar, agir e agora, não digo que sou melhor, mas posso dizer que sou diferente e isso me orgulha muito. Se irei passar no vestibular, eu não sei, não sei mesmo, o que eu sei é que nada vai me fazer abandonar esta grande família que me acolheu tão bem, um abraço a todos e viva o EDUCAFRO!

* Evandro Cruz Silva é estudante, 16 anos, futuro jornalista e aluno do Educafro do núcleo Baixada Valongo.